"Para que minha vida se transforme"

A saudade me fez voltar ...

Estranhamente, o relato de hoje não é sobre trilhas e montanhas, mas também é sobre deixar uma pegada no mundo.

"Para que minha vida se transforme" é o título de um motivacional que li há alguns anos. Sinceramente, não recordo nenhum dos conselhos deste livro, mas, o título ficou bem gravado em minha memória.

O que é necessário para transformar a minha própria vida?

Insights acontecem a qualquer hora e em qualquer lugar e quando você menos espera ... eureca! As conexões mentais acontecem e aquilo que não fazia muito sentido adquire um novo significado pessoal.

Estava eu preparando o almoço, algo que realmente faço por prazer, quando observei a pessoa que amo, pela janela. Ela não sabia que estava sendo observada, pois uma cortina nos separava e ainda nem desconfia que é a inspiração deste relato.

Enquanto lutava arduamente para tirar com uma escova os pelos que nosso cão transferiu para o seu macacão, assoviei, e notei que aquele fiu-fiu inusitado iluminou seu rosto com um belo sorriso. E assoviei de novo.

Nosso cão foi um mimo que nos demos no início da pandemia. Um incentivo para preservar nossa saúde mental. E tem dado muito certo. Ele passou a receber uma boa parcela de nossa atenção e cuidados diários e nos leva para passear todos os dias após o expediente, o que além de tudo nos ajuda a ficar em forma.

Mas, voltando ao assunto, aquele sorriso instantaneamente me reportou ao momento em que uma frase singela foi pronunciada de um púlpito, em uma bela manhã de sábado: "A VIDA É FEITA DE AMÁVEIS PEQUENEZAS!".

E, então, eu descobri. Não é o tamanho, mas, a frequência e a constância dos gestos que transformam a vida. É muito bom olhar as coisas e as pessoas devagar. O coração não precisa de óculos para ver melhor, mas precisa que algum tempo seja dedicado a observar.

Este fato me levou a outro evento recente, quando saí de casa para colocar o lixo na lixeira.

Para meu espanto, o saco de lixo do dia anterior ainda estava lá, com seu conteúdo todo espalhado na grama, para todos os passantes admirarem. Estava tudo absolutamente revirado e cuidadosamente distribuído pelo gramado.

Eu, que costumo ser calma e silenciosa, mas não tenho sangue de barata, voltei para dentro esbravejando, mas, antes, resolvi conferir rapidamente a caixa de correio, para aproveitar a viagem.

Foi quando encontrei um bilhete, escrito à mão, "aparentemente", às pressas: "Coopere comigo e eu coopero com você".

Logo, associei o bilhete ao ocorrido e, hoje, após alguns dias de reflexão e superada a mágoa, cá estou eu, feliz da vida, comprometida com a coleta seletiva. Aprendi que mesmo as tarefas mais simples como descartar o lixo podem se transformar em um ato consciente de amor. E às vezes me pego imaginando o alívio dos catadores ao encontrar o material adequadamente separado e limpo, pronto para sua destinação. Sinto que eles merecem esse "carinho".

Eu coopero com eles, eles comigo e todos cooperamos com o planeta! Todo mundo sai ganhando. Uma equação simples, mas aprendida da pior forma.rs

Confesso que pensei em responder com outro bilhete demonstrando a minha indignação ou ficar de tocaia no portão esperando uma nova visita, mas agora entendo que fiz a melhor escolha.

Detalhe: assim que tive esse insight, corri para o computador e esqueci a panela no fogão. Para minha sorte, a fonte de minha inspiração sentiu o cheiro de queimado a acudiu o almoço antes que o estrago fosse irreversível. Ela está sempre atenta e tem um olfato muito aguçado, para minha sorte. Não consigo imaginar a minha vida sem ela.

A lição que ficou para mim é que, cada gesto, pequeno ou grande, tem o seu valor, mas, aqueles que realmente tem potencial para causar mudanças positivas, são aqueles praticados com constância.

Para todo coração generoso e disposto a oferecer há sempre outro coração necessitado e aberto para receber. Com certeza, todos seremos enriquecidos com essas trocas.

Seja relevante no mundo!